Na prática odontológica, muitas vezes, o dentista depara-se com lesões que precisam ser analisadas de forma mais detalhada para determinação de sua etiologia. Nesse momento, surge a necessidade de remoção do tecido para avaliação anatomopatológica, através de uma técnica conhecida na odontologia como biópsia.
Devido à importância da biópsia na odontologia, é fundamental que o profissional dessa área esteja preparado para realizá-la com eficiência. Por isso, elaboramos um artigo especial sobre o tema, o qual responderá as dúvidas mais comuns sobre essa técnica odontológica.
O que é a biópsia na Odontologia?
É um exame complementar que consiste na coleta de um tecido vivo para avaliação macro e microscópica, com o objetivo de elucidar o diagnóstico. Por extensão, o exame citológico de fluidos corporais também pode ser considerado uma forma de biópsia.
Na odontologia, a biópsia tem importância fundamental na corroboração de diagnósticos clínicos de neoplasias, processos hiperplásicos e metaplásicos, condições inflamatórias e doenças degenerativas. Além disso, mesmo em lesões não específicas, a biópsia odontológica é uma ferramenta importante para o diagnóstico diferencial.
Quais são as principais indicações para a biópsia na odontologia?
Há diversos casos clínicos na odontologia nos quais é indicada para auxiliar no diagnóstico. Entre os principais, destacamos:
- Lesões persistentes por mais de 14 dias sem base etiológica;
- Lesões inflamatórias que não respondem ao tratamento após 14 dias;
- Existência de alterações hiperceratóticas na superfície tecidual;
- Existência de tumefação persistente sob tecido normal;
- Lesões que interferem na função local;
- Lesões com características de malignidade.
Existem contraindicações para a realização da biópsia na odontologia?
Há algumas situações em que deve-se tomar precauções adicionais na realização da biópsia na odontologia. Inicialmente, é necessário avaliar as condições de saúde gerais do paciente, uma vez que o procedimento cirúrgico pode levar a uma descompensação metabólica em indivíduos com comorbidades ativas.
Em relação aos aspectos odontológicos, o dentista deve observar a presença de lesões pigmentadas ou lesões vasculares.
As lesões pigmentadas podem ser indicativas de melanoma. Nesse caso, a biópsia deve ser do tipo excisional, realizada com uma margem considerável de segurança, uma vez que o procedimento pode desprender células e causar uma proliferação intravascular indesejável.
As lesões vasculares, conhecidas como hemangiomas, também não devem sofrer biópsias incisionais, especialmente se forem cavernosas intraósseas. Essa contraindicação deve-se ao risco de sangramento excessivo, o qual pode colocar a vida do paciente em risco. Nesse caso, para diagnóstico laboratorial, pode-se coletar sangue da lesão através de aspiração com seringa e agulha.
Quais são os tipos de biópsia na Odontologia?
Há três principais tipos de biópsia na região bucal: a biópsia incisional, a biópsia excisional e a biópsia por aspiração.
Biópsia Incisional
Nesse tipo de biópsia, há retirada parcial do tecido da lesão, coletando um fragmento de, no mínimo, 5 mm em diâmetro e profundidade. Recomenda-se essa técnica para lesões que não podem ser retiradas completamente, devido à sua extensão ou localização, e que apresentem características de malignidade no exame clínico.
Na biópsia incisional, deve-se optar pela remoção das áreas sangrantes, ulceradas, dolorosas ou com induração, evitando as regiões com queratinização mais espessa. É necessário coletar também parte de tecido sadio circunvizinho e da base da lesão.
Biópsia Excisional
Na biópsia excisional, há retirada de todo o tecido alterado, com uma margem de segurança formada por tecido normal. Esse procedimento tem validade tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento da lesão.
A biópsia excisional é recomendada para lesões com menos de 1 cm de diâmetro, com aparência de benignidade. Também é o método de escolha para lesões hiperpigmentadas. Em todos os casos, deve ser realizada a remoção conjunta de uma margem de tecido normal circunvizinho de 2 a 3 mm.
Biópsia por punção
A biópsia por punção é utilizada para coleta de material em massas tumorais grandes, cujo interior contêm fluido ou substância de consistência mole. Essa técnica é realizada utilizando-se seringa e agulha de grosso calibre. Esse tipo também é recomendado para lesões intraósseas.
Qual é o protocolo para realização da biópsia na Odontologia?
Após a anamnese odontológica e o exame físico do paciente, caso o dentista verifique a necessidade da realização de uma biópsia, é necessário seguir um protocolo para execução do procedimento. Esse protocolo tem como objetivo garantir a segurança do paciente e a qualidade da amostra.
1. Escolha do material cirúrgico adequado
A seleção apropriada dos instrumentos cirúrgicos a serem utilizados é essencial para garantir a qualidade do material coletado. Deve-se evitar instrumentais e técnicas que produzam dilacerações, macerações ou outros eventos que alterem o tecido a ser analisado.
2. Preparação do campo cirúrgico
Para realizar a biópsia, o dentista deve tomar todas as precauções de biossegurança exigidas pela legislação, a fim de preservar a segurança e saúde do paciente e dos profissionais.
3. Anestesia
Um dos cuidados fundamentais na realização da biópsia na odontologia é a aplicação da anestesia em local distante da área a ser removida. Esse procedimento evita possíveis alterações morfológicas no material coletado.
4. Remoção do tecido
Durante a biópsia, é necessário atentar-se à manipulação do tecido, evitando traumatizá-lo. Também é importante coletar quantidade de material suficiente para realização da análise anatomopatológica.
A técnica utilizada para a biópsia dependerá da análise inicial do tipo de lesão, conforme discutido anteriormente. Após o procedimento cirúrgico, os tecidos vizinhos devem ser suturados, verificando a hemostasia local.
5. Acondicionamento adequado da amostra
O material coletado na biópsia deve ser acondicionado imediatamente em quantidade suficiente de fixador, em uma proporção dez vezes maior do que o tamanho da peça. O fixador de escolha na odontologia é a solução de formol a 10%.
O frasco contendo a amostra deve ser corretamente identificado com o nome do paciente, número do prontuário, data de realização do procedimento e espécime coletado.
6. Envio da amostra para o laboratório
A amostra deve ser enviada ao laboratório para análise anatomopatológica junto ao formulário de solicitação do exame. Outros documentos que devem acompanhar a amostra são: ficha com dados do paciente, relato clínico, exame físico, resultado de exames complementares e hipótese diagnóstica.
7. Orientações pós-biopsia ao paciente
Alguns pacientes relatam dor após a biópsia odontológica, principalmente nos três primeiros dias subsequentes ao procedimento. Logo, um analgésico pode ser receitado para avaliar o desconforto local.
O paciente também deverá ser orientado a manter uma higiene rigorosa do local em que foi realizada a fim de evitar infecções. Deve-se orientar também o paciente sobre a importância do retorno ao consultório para acompanhamento profissional.
8. Resultado do exame
Após realização do exame histopatológico, o laboratório emitirá o resultado e o laudo, no qual constarão todos os achados clínicos relevantes. Com esse resultado em mãos, o dentista poderá realizar o diagnóstico e verificar as possibilidades terapêuticas de tratamento.
Ao longo do artigo, foi possível constatar a importância da biópsia na odontologia, como ferramenta para a elucidação diagnóstica de lesões. O profissional dentista deve possuir amplo domínio dessa técnica, a fim de coletar amostras adequadas para o exame anatomopatológico. Dessa forma, é possível realizar diagnósticos corretos e apresentar opções de tratamento mais eficientes ao paciente.
Caso tenha restado alguma dúvida sobre a biópsia na odontologia, deixe nos comentários abaixo. Continue nos acompanhando para mais artigos sobre temas relacionados à prática odontológica.